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A exposição “Inside Out” debruça-se sobre as cidades, locais que trazem à memória tempos passados, o presente e o futuro. Locais onde a vida não pára e onde tudo está em constante movimento e em mutação. Paradoxalmente , as cidades de José Lourenço estão em suspenso, contidas num tempo infinito, quase cinematográfico. Como se estivéssemos perante um fotograma que fixasse um bloco de movimento, criando movimentos algo sonâmbulos de uma câmara que agora se reduziram a um único ponto - a uma pontuação puramente óptica da imagem congelada num instante perene de suprema e frágil insignificância. Assim, o sentido do procedimento não é, pois, o facto de abrir qualquer possibilidade narrativa ou de ação, mas justamente testemunhar a total ausência de intriga. A imagem-ação desaparece em proveito da imagem puramente visual, o que provoca o nascimento da própria imagem na sua qualidade de ser o puro referendo de um tempo morto. Silêncio e vazio prolongado, em que a corrente das coisas ou do mundo circulam.

José Lourenço constrói um atlas visual da paisagem urbana como a arquitetura e a engenharia a compõem na atualidade. Não existe mais nada para além destas. A humanidade foi destituída do seu lugar de pertença, qualquer representação de factos reais que possam causar distúrbio à paisagem deve ser considerada um erro.

Nos seus trabalhos, superfícies lisas, geometricamente rigorosas formatam um mundo frio e silencioso onde ninguém habita. Um perfeito mausoléu, que parece ter sido engendrado por um qualquer processo computorizado, que a pontual presença de formas de vida chama ao real. Em contraste com este muro perturbador e abstracto, a presença pontual de vestígios que os comportamentos humanos deixam à sua passagem confere algum enquadramento de realidade. Muitas vezes é apenas um único elemento orgânico – arbusto, escadote, mesa, roupa que quebra a mudez da pintura quase limitada às paredes monocromáticas dos edifícios. Essa tensão toma a forma de uma oposição, visualmente afirmada de um modo teatral, entre natureza e cultura, vida e inércia, artificialidade e erupção incontrolada de algo que não foi criado por mão humana. Existe uma certa teatralidade assente na capacidade de criar espaços silenciosos, meditativos, ao mesmo tempo que essa limpeza é subtilmente reequacionada por elementos, divergentes mas discretamente misteriosos.

José Lourenço produz paisagens psicológicas, lugares esvaziados da presença humana, mas onde existe o interesse entre o que é publico e o privado, embora tudo aqui remeta para um Eu ou para um Nós, não tanto como busca de uma qualquer espiritualidade purificada mas como uma inquietação que se exprime silenciosamente.

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