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Casa Museu Bissaya Barreto
R. Infantaria 23, Coimbra

 

(…)o lado de dentro do lado de fora 1.

As fotografias encontradas para esta exposição fazem parte de uma longa reflexão sobre a natureza da fotografia e a sua prática. Há muito que o que mais me interessa e instiga é fazer imagens que tragam uma promessa ou sensação de tempo. Escrevi noutro lugar que o meu trabalho se tem apurado naquilo que designo como a expressividade do arquivo, ou seja, na forma como o arquivo se manifesta na obra de arte enquanto traço ou vestígio. Ora, é mesmo do arquivo (por analogia com os acervos de imagem dos fotógrafos) que emerge a ideia de excesso. Esse é o mal de qualquer artista e um mal crónico daqueles que usam a fotografia com media preferencial 2.

Parece evidente que a fotografia é a prova de um primeiro momento na linha do tempo e que, desde esse tempo, até aqui e agora, se foi sedimentando outro tempo. Este empedernimento da imagem permite pensarmos a fotografia como o lugar de um tempo heterogéneo. Será, porventura, desta acumulação de tempos que vive a nossa curiosidade sobre a imagem fotográfica, numa aventura utópica, e que permitiu a Bernardo Pinto de Almeida afirmar que a Fotografia pode ser o lugar de todas as imagens.

O gesto criativo será sempre um trabalho restaurador para uma totalidade ilusória. Carlos Amaral Dias escreveu que a criatividade “(…) é a possibilidade de recuperarmos e repararmos qualquer coisa que está no nosso interior sob uma forma incompleta e angustiante e que se recria no próprio momento da criação (…)”3. Na vida o meu limite é sempre o limite do outro. Na imaginação, na arte, o pensamento é absolutamente livre.

Assim, Luís Quintais (a quem devo o título)4 escreverá sobre a inexorabilidade da vida terrena e da imaginação no tempo, num tempo dobrado, por vir, feito de adições, onde veremos “a flor azul [que] nascerá no deserto”5.

Será nessa linha entre a distância (aura - aura que é também impregnada da sensação de tempo) e a proximidade (vestígio) que a fotografia recolhe traços de uma totalidade que só se cumpre no fragmento.

 

José Maçãs de Carvalho_2024

1 Gilles Deleuze, Foucault, (Coimbra: Edições 70, 2017), 104.

2 José Maçãs de Carvalho, “A recolha de traços”, in Ana Rito ed., Seminário/seminarium_curated research_the academy as medium (Coimbra: Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, 2023), 94 e 95.

3 Carlos Amaral Dias e João Sousa Monteiro, Eu já posso imaginar que faço, (Lisboa: Assírio & Alvim, 1989), 95.

4 Dobrado: não estendido; que tem dobras de reforço; duplicado; curvado; diz-se de terreno acidentado; dissimulado.

5 “Alguém virá, um rosto, um animal, um voo, uma canção. O tempo será dobrado, complicado de novo.(…)”: Luís Quintais, A noite imóvel, (Lisboa: Assírio & Alvim, 2017), 172

S/ título (after a.v. janssens), 2024
Papel premium photo semigloss, 85 cm x 128 cm

S/ título (dobra)”, 2024
papel premium photo semigloss, 85 cm x 128 cm
“9/11”,  2007
Papel Photorag,100 x 130 cm
“Beirut 06”, 2007
Papel Photorag, 100 x 130 cm,
S/ título (after m. marques), 2024
Papel premium photo semigloss, 54 cm x 80 cm (x3)
"Warburg Hotel”,2022
papel premium photo semigloss, 80 cm x 120 cm
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