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Inauguração 15.02 - 17h

Casa-Museu Bissaya Barreto (Rua da Infantaria, 23, Coimbra)


Desde a década de 1970, Pires Vieira tem vindo a desenvolver uma prática artística sólida e coerente, centrada no questionamento e na subversão dos limites da pintura tradicional. O seu trabalho radica-se na desconstrução e na hibridação da pintura, propondo uma expansão das fronteiras deste meio de expressão. A centralidade do seu trabalho reside na crítica constante às normas artísticas, utilizando suportes alternativos e criando camadas visuais que desafiam a percepção direta da obra. Este gesto de "sabotagem" da pintura propõe subverter as expectativas do espectador, inserindo elementos disruptivos que questionam a própria natureza do processo pictórico mas que não descuram a própria prática que se define como profusa, elaborada e tecnicamente experiente. Em Geometrias III, por exemplo, Pires Vieira utiliza a sobreposição de planos e camadas, frequentemente fazendo referências a obras clássicas da história da pintura, num interesse marcadamente expressionista. A opção por criar uma tensão sensorial com o espectador traduz-se em superfícies compactas, com textura sólida e densidade material, que ocultam partes da obra. Esse gesto de ocultação cria uma barreira visual que desafia o espectador a interagir com a obra, forçando-o a investigar o que está escondido sob as camadas de cor e material. Essa tensão entre ocultação e revelação é uma constante na obra de Pires Vieira: as superfícies materiais tornam-se uma forma de questionar as percepções visuais, criando um espaço de mistério e descoberta para o espectador. As camadas de cor e densidade material não apenas vedam a obra, mas também criam um jogo contínuo entre o visível e o oculto, desafiando as expectativas do público e forçando-o a uma reflexão mais profunda sobre o processo de visualização e interpretação da arte.
A pintura é assim entendida como uma prática que se engaja com outros suportes e formas de expressão, estabelecendo um diálogo constante com outras linguagens artísticas. Cada obra de pintura apresentada pelo artista carrega consigo uma expectativa: a de que o espectador não apenas observe, mas também reflita não só sobre a própria prática da pintura mas também os seus limites e convenções. Nesse contexto, a pintura deixa de ser apenas uma representação visual e passa a ser um campo de reflexão sobre sua própria existência, um questionamento contínuo da sua validade e relevância como meio artístico.
Neste sentido, a pintura não se limita a uma proposta formal ou visual, mas provoca uma reflexão mais profunda sobre o papel da pintura na arte contemporânea. O artista posiciona-se como um crítico e um desafiador das características, convenções e significados da pintura. Exemplo dessa abordagem é o nivelamento dos significados atribuídos aos objectos oriundos de sistemas diferenciados ou seja a obra de arte ao integrar elementos do quotidiano, como cadeiras desmontadas na instalação Lixo de Artista 2 ou Arquivo Geral e materiais de construção como a utilização de um escadote. Ao inserir esses objetos utilitários no contexto artístico atribui à obra uma forte dimensão performática implicando uma ação que transcende a simples representação e confere à obra um caráter transformador. A ação é o conceito que pode agregar a ideia de posicionamento mais que representação na obra de Pires Vieira. A integração de elementos comuns no trabalho de Pires Vieira sugere uma abordagem da prática artística como uma prática transformadora, que envolve a ação e a experiência no espaço da obra.
A interconectividade entre diferentes formas de expressão, e a predisposição confrontacional do trabalho de Pires Vieira relaciona-se diretamente com o espaço e com o público. O seu trabalho ultrapassa uma representação estática na tela e procura estabelecer uma interação entre a obra e o espectador. Para o artista, a obra de arte não é apenas um objeto físico, mas uma presença dinâmica, um campo de experiência que envolve ativamente o público. O papel do espectador é assim essencial para a concretização do trabalho, transformando a experiência artística num processo de partilha.O espectador é desafiado a refletir, a questionar e interagir, tornando-se parte integrante do processo artístico. A obra configura um espaço de incerteza e reflexão, onde o espectador é incitado rever as suas próprias interpretações sobre a pintura e os seus significados culturais. O trabalho é assim fluido e relacional, em que as fronteiras entre as diferentes formas artísticas estão sempre em diálogo e negociação.

Pires Vieira (Porto, 1950) estudou Arquitectura e Urbanismo, na Escola Superior de Belas Artes de Paris e na Faculdade de Paris VIII, em França. Dentro das cerca de 45 exposições individuais que realizou destacam-se ‘Pinturas: Geometrias III e IV’, 2023, na Carlos Carvalho Arte Contemporânea, ’Trash - Lixo de Artista', no Museu Coleção-Berardo, 2019, 'Pires Vieira Antológica', da pintura à pintura, no MNAC - Chiado e na Fundação Carmona e Costa, ‘Faites vos jeux, Rien va Plus' na Sala do Veado no MNHN, 'Like a Painting - Up Close... It is a Big Mess', na Appleton Square, em Lisboa; 'Pires Vieira', no Pavilhão Branco do Museu da Cidade; 'Talk to Me', no CAM-Fundação Calouste Gulbenkian, 'Geometrias' na Fundação Museu das Comunicações. Em relação às cerca de 75 colectivas, podemos referir  'Histórias: Obras da Colecção de Serralves', Museu de Serralves; 'Exposição Permanente (1969/2010)', Museu Berardo, CCB; 'Um Percurso, Dois Sentidos', no MNAC/Chiado; 'Linguagem e Experiência', no Centro Cultural Palácio do Egipto, no Museu Grão Vasco e no Museu de Aveiro; 'Alternativa Zero', na Galeria Nacional de Arte Moderna, organizada por Ernesto de Sousa. Está representado em inúmeras colecções como: CAM-Fundação Calouste Gulbenkian, MNAC/Chiado, Culturgest/CGD, Colecção/Museu Berardo, Fundação/Museu de Serralves.

 

“My orders”, 2018
Óleo sobre tela, em caixa de acrílico, 47 x 53 x 8 cm
“My orders”, 2018
Óleo sobre tela, em caixa de acrílico, 47 x 53 x 8 cm
“My orders”, 2018
Óleo sobre tela, em caixa de acrílico, 47 x 53 x 8 cm
“My orders”, 2018
Óleo sobre tela, em caixa de acrílico, 47 x 53 x 8 cm
“My orders”, 2018
Óleo sobre tela, em caixa de acrílico, 47 x 53 x 8 cm
“My orders”, 2018
Óleo sobre tela, em caixa de acrílico, 47 x 53 x 8 cm
Sem título, 2020
Óleo sobre tela e escadote de alumínio, medidas variáveis
Série “Geometrias III”, 2020-2022
Óleo sobre tela 130 x 162 cm
Série “Geometrias, I’m a fountain of blood”, 2016
Óleo sobre tela, 137 x 181 cm
Série “Geometrias, in a forrest pitch dark”, 2016
Óleo sobre tela, 226,5 x 95,5 cm
Série “Une image peut en cacher une autre”, 2011
Óleo sobre papel, 70 x 100 cm
Série “Une image peut en cacher une autre”, 2011
Óleo sobre papel, 70 x 100 cm
Série “Une image peut en cacher une autre”, 2011
Óleo sobre papel, 70 x 100 cm
Sem título, 2020
Óleo sobre tela e sobre madeira, medidas variáveis
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