Na mais recente exposição individual na galeria Carlos Carvalho, Ricardo Angélico segue o registo que tem vindo a desenvolver e que se concentra na elaboração de composições individuais com figuras imaginárias inseridas em contextos de ação muitas vezes ambíguos. Essas representações, aparentemente dissociadas do cenário global, desenham pequenas células narrativas, guiando o observador por uma rede intricada de conexões. O raciocínio subjacente não segue assim uma narrativa linear, mas sim uma abordagem combinatória, incorporando citações, distorções, dinamismo e contaminação de formas e ideias. Deste modo, a figuração no trabalho de Ricardo Angélico não nos situa apenas num espaço específico, mas também orienta e cruza eixos, absorvendo o olhar para uma infinidade de conexões mais ou menos subtis. Estes trabalhos podem ser interpretados como catálogos em constante evolução, apresentando múltiplas incidências gráficas, resultando em composições enigmáticas e desconstrutivas.
A composição de imagens ensaia assim uma reinterpretação consciente da ordem estabelecida das coisas, procurando descobrir novas relações entre narrativas e fazendo analogias entre elementos que podem parecer dissociados. Estas composições procuram transcender as classificações convencionais, promovendo uma análise das afinidades entre as figuras. É como se o artista se lançasse a fazer um trabalho incessante de recomposição do mundo, convertendo as imagens em recursos para analisar a realidade. Com esta forma de abordar a composição, o artista entende a obra como uma janela de observação dos modos de representação e de formação do conhecimento, chamando a atenção para o modo como apreendemos as coisas fora do pré-concebido.










