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Nesta terceira exposição individual na galeria, o artista Roland Fischer (Saarbrücken, Alemanha, 1958) apresenta trabalhos recentes das séries Transhistorical Places e New Architectures, estabelecendo um diálogo entre diferentes formas de representar a arquitetura. Em Transhistorical Places, Fischer manipula imagens de edifícios por meio de uma composição abstrata de planos e formas, intervindo sobre a fotografia original. Nesta série, a arquitetura brutalista funde-se com gestos e formas da arte concreta do século XX, criando uma fusão que reflete o ímpeto utópico de destas duas manifestações artísticas: a esperança por um futuro melhor, alicerçado no desejo de transformação social e estética. Assim, de um lado, relaciona-se a estética brutalista que é caracterizada pelo uso de materiais em estado bruto, de aparência monolítica e sólida. De outro, o modernismo, com seu perfil totalizante, que se insere num sistema de pensamento pautado por um forte compromisso tanto com a democratização da arte quanto com a arte enquanto instrumento de transformação social.
Da imagem do edifício, com suas linhas duras e manchas texturadas, Fischer adota o papel de pintor ao sobrepor linhas, manchas e texturas que agregam novas camadas de significado à obra. Tais camadas não apenas alteram a percepção do edifício, mas também estabelecem um contraste sutil entre o real e o imaginado. Assim, o artista transita entre a fotografia e a pintura, evidenciando a dimensão pictórica da imagem e traduzindo, por meio da intervenção, a experiência sensorial e espacial do edifício. Deste modo, também se estabelece uma visão de contraste entre a estética simples do modernismo e a ideia de resgatar o imaginário. Essa abordagem pode ser relacionada à poética de Gaston Bachelard, em A Poética do Espaço (Martins Fontes: São Paulo, 1993, p. 63), que evoca a ideia de que a arquitectura é a " geometria do sonho, as casas do passado, as casas onde vamos reencontrar, em nossos devaneios, a intimidade do passado.” Por isso, o que Fischer pretende mostrar é como os edifícios têm impacto enquanto linguagem que comunica, onde as dinâmicas sociais, experiências históricas e memórias assumem um valor essencial. A uma abordagem austera o artista contrapõe uma imagem poética - o mundo da imaginação.
O artista demonstra como a narrativa visual cria uma tensão entre os elementos abstratos e a fotografia subjacente, oferecendo um contraste de tonalidades intensas e dando profundidade ao diálogo entre o real e o imaginado, aproximando a obra de uma experiência pictórica carregada de significado.
Muitos desses trabalhos não se referem a um edifício concreto, mas a um ambiente onde são associados elementos estilísticos que formam um discurso que permite identificar um lugar. Um exemplo disso são as curvas, círculos e o contraste entre amarelos, cinzas e pretos, que nos fazem associar imediatamente à paisagem urbana do Rio de Janeiro, Brasil.
Em New Architectures, Fischer adota uma técnica composicional inspirada no cubismo, reunindo fotografias de um único edifício captadas de diferentes ângulos, que são reconfiguradas em um único plano bidimensional. Esta abordagem permite que múltiplas perspectivas de um edifício sejam apresentadas simultaneamente, criando uma nova linguagem visual. As formas e linhas icónicas do edifício são desconstituídas e reorganizadas, oferecendo uma reflexão sobre o discurso que caracteriza aquele edifício, ou seja os elementos estilíticos que o diferenciam e como estes comunicam. Novamente, o uso de linhas abstratas e a inserção de cores intensas da composição, amplificam o caráter que o insere no domínio do imaginário, criando um contraste vívido entre os elementos abstratos e a fotografia. Fischer, ao intervir sobre a fotografia, resgata a linguagem da pintura, manipulando formas e texturas, sobrepondo camadas que intensificam a experiência estética da obra. O contraste entre superfícies lisas e rugosas transparências e linhas estruturais, cores e claros-escuros, reforçam a dimensão pictórica da imagem, traduzindo em linguagem visual a experiência espacial do edifício de uma maneira profundamente subjetiva.
Assim, em ambas as séries, Roland Fischer propõe um olhar sensorial e poético sobre a arquitetura, em que as imagens são reinterpretadas, distorcidas para mostrar como é que os edifícios e lugares comunicam e evocam memórias, emoções e percepções individuais, transformando o espaço físico numa linguagem visual carregada de significado.

Hydra, Transhistorical Places, 2022
C-print Diasec®, 211 x 160cm | 160 x 121cm
Khytera, Transhistorical Places, 2022
C-print Diasec®, 211 x 160cm | 160 x 121cm
Lima, Série Transhistorical Places, 2018
C-print/Diasec, 110 x 137,5 cm
MAAT, Série New Architectures series, 2018
C-print/Diasec, 110 x 138cm
Paris, Série Transhistorical Places, 2018
C-print/Diasec, 212 x 157 cm
Rio, Série Transhistorical Places, 2018
C-print/Diasec, 211,6 x 160,5cm
Casa Gilardi, Série New Architectures, 2008
C-print/Diasec, 160 x 121 cm
Central Academy, Série New Architectures, 202
C-print/Diasec,160 x 121 cm
Gibellina, Série Transhistorical Places, 2024
C-print/Diasec, 124 x 124 cm,
House of History, Série Transhistorical Places, 2020
C-print/Diasec, 124 x 124 cm
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