Nesta segunda exposição individual em Portugal, Jessica Backhaus apresenta trabalhos de três novas séries: Confinement in Berlin, Far Away but Close e Cut Outs.
Em “Dialogue on the New Plastic” (publicado originalmente em De Stijl, Leiden, fevereiro e março de 1919), Piet Mondrian refere-se aos seus primeiros trabalhos como uma tentativa de “expressar relações plasticamente através de oposições de cor e linha” e de permitir que “cor e linha falem por si mesmos”. Para este artista, a “emoção da beleza é cósmica, universal”. Embora aparentemente os trabalhos de Mondrian possam sugerir uma abordagem quase asséptica e um caminho de depuração absoluta em relação à realidade, estes estão no domínio do espiritual e do expressivo, sendo motivados pela emoção. Logo, embora a referência a Mondrian pareça contrastar com a poética e a naturalidade das obras de Jessica Backhaus, é a redução ao mínimo, presente nas composições de ambos, que faz com que os trabalhos produzam uma energia intensa pela dinâmica das coisas simples. Tal como Mondrian, Backhaus retém as emoções mais profundas dos elementos plásticos: luz, sombra, cor e volume, dando-lhes expressão e um novo estatuto. Jessica Backhaus amplia um microcosmos para dele extrair um universo de detalhes, de experiências sensoriais, capturando a corporalidade dos objectos em constante mudança, isolando e revelando a linguagem da visualidade.
Produzida numa época onde todos nós fomos obrigados a viver numa velocidade de tempo diferente, a série Confinement in Berlin foca-se na ideia de quietude como uma posição activa. A partir da citação de Joseph Beuys, “Wer nicht denken will fliegt raus” (Quem não quiser pensar pode pôr-se a andar), a artista mostra como a arte pode ser uma plataforma que pensa e reorganiza um mundo em mudança, sendo um meio de adaptação e de sobrevivência. Alguns destes trabalhos são directamente inspirados nas obras The Capri Battery, 1985; Das Erdtelefon, 1967; e The Fat Chair, 1963, todas do artista alemão.
Far Away but Close, trabalho feito pela artista durante várias visitas ao Chile nos últimos sete anos, é um ensaio fotográfico onde os afectos determinam uma trajectória de busca de lugares e memórias. Nestes trabalhos, a importância da experiência é trazida através de uma abordagem sensorial que a faz permanecer particularmente vívida nestas imagens.
Desenvolvida nos últimos três anos e dando continuidade às experiências em colagem da série Trilogy, New Horizon, a artista explora na série Cut Outs a força expressiva do movimento. Jessica Backhaus trata uma realidade pictoricamente reduzida, onde os elementos se volatilizam em puro movimento, desencadeando uma onda de vibração presente nas sombras e cores saturadas. Para isso, organizou e encenou composições onde o papel transparente recortado reage ao calor da luz solar intensa, que deforma e projeta sombras, para depois reportar o fenómeno. Tal como um cientista que disseca a realidade através do microscópio, a artista assiste sem intervir, dedicando-se a descrever o comportamento do papel usando a câmara fotográfica. A luz e o papel reagem como se estivessem em diálogo, encerrados num discurso e realidade próprios, distantes do mundo. Jessica Backhaus abraça definitivamente em Cut Outs um caminho para a abstracção, tomando partido da colagem como uma forma de combinar cores e focando-se na plasticidade numa experiência completamente encenada. Os recortes reflectem tanto um compromisso com o desenho quanto uma inventividade que a coloca ora na encenação, usando a escultura, ora na exploração formal de elementos plásticos, que a insere na pintura, ora no domínio do puro registo fotográfico, ou talvez num híbrido de todos estes.
Biografia
Jessica Backhaus (ALE, EUA) nasceu em Cuxhaven, na Alemanha em 1970 e cresceu numa família artística. Aos dezasseis anos mudou-se para Paris onde estudou fotografia e comunicação visual. Aqui conheceu Gisèle Freund em 1992, que se tornou seu mentor. Em 1995, sua paixão pela fotografia atraiu-a para Nova York onde trabalhou como assistente de alguns fotógrafos, tendo prosseguido posteriormente seus próprios projetos até 2009, ano em que saiu da cidade.
Jessica Backhaus é considerada uma das vozes mais proeminentes da fotografia contemporânea alemã de hoje. O seu trabalho foi mostrado em inúmeras exposições individuais e coletivas, incluindo as da National Portrait Gallery, Londres, da Martin-Gropius-Bau, Berlim e da Kunsthalle Erfurt. Até à data, a artista conta com dez publicações sobre o seu trabalho: Jesus and the Cherries, 2005, What Still Remains, 2008, One Day in November, 2008, I Wanted to See the World, 2010, ONE DAY- 10 photographers, 2010, Once, still and forever, 2012, Six degrees of freedom, 2015 and A TRILOGY, 2017 Far away but Close, 2019 and Cut Outs, 2021, todas publicadas pela Kehrer Verlag, Heidelberg / Berlim excepto Far Away but Close publicada por Another Place Press, Scotland. O seu trabalho está apresentado no livro Women Photographers de Boris Friedewald (Prestel Verlag 2014). Das exposições individuais e coletivas, destacamos as que tiveram lugar na National Portrait Gallery, Londres, Goethe Institut, Paris, França, em Arles, França, Centrum Kultury Zamek, Poznan, Polónia, Martin-Gropius-Bau, Berlim, Kunsthalle Erfurt, Alemanha, Deutsche Börse Photography Foundation, Alemanha, Midland Art Centre, Birmingham e Scottish National Portrait Gallery.
As obras de Jessica Backhaus estão em várias coleções de arte de referência incluindo as da Coleção de Arte Deutsche Börse, Alemanha, da Colecção de Arte ING, Bélgica, da Coleção do Museu de Belas Artes, Houston, EUA e da Coleção Margulies, Miami, EUA e Taunus Sparkasse, Alemanha.
Em 2012, a FOAM - Fotografiemuseum, Amsterdam produziu um breve documentário sobre o seu trabalho intitulado "Wonder Jessica Backhaus", um filme de Willem Aerts.