Nesta sua primeira exposição individual na galeria, o artista apresenta um conjunto de trabalhos que revelam uma profunda compreensão da interação entre o ser humano e o ambiente, destacando a importância dos caminhos e dos percursos na exploração e na interpretação da paisagem. Esta abordagem não captura apenas a essência física de um lugar, mas também pretende expressar a "paisagem humana" do artista, composta pelas experiências, memórias, emoções e visões pessoais. Assim, a representação da paisagem torna-se uma síntese única de elementos internos e externos, refletindo não apenas a natureza física do ambiente, mas também a complexidade da experiência humana.
A manipulação e apropriação do território no seu trabalho refletem a complexa interação entre o ser humano e o ambiente. Percorrer trajetos e capturar detalhes visuais ao longo do caminho, cada pormenor, objeto e mudança na paisagem é uma oportunidade para explorar a interação entre luz, sombra, cor e forma. Algarvio concentra-se na experiência sensorial de observar e reagir ao mundo ao seu redor, expressando os seus resultados através da pintura. Assim,o artista revela uma compreensão profunda da interação entre o ser humano e o ambiente, destacando a importância dos caminhos e dos percursos na exploração e interpretação da paisagem. Esta paisagem humana é formada pelas vivências, recordações, sentimentos e percepções do artista e é articulada com a paisagem física, culminando em uma fusão única destas duas dimensões.
Desenvolvendo esta ideia-matriz, o artista baseia na subjetividade para estabelecer um diálogo crítico e reflexivo com o passado, apropriando-se de obras históricas que cita, recontextualiza e interpreta. Ao revisitar seu próprio mapa de obras de arte, questiona e desafia as narrativas estabelecidas, oferecendo a sua própria interpretação formal. Esta prática de reimaginação refaz antigas opções pictóricas como se fizesse uma arqueologia das soluções formais adoptadas pelos referidos pintores. É o mapa de escolhas de obras que o artista concebe o seu próprio muro de notáveis. O artista não é apenas um criador, mas também um intérprete e mediador cultural, facilitando uma conversa contínua entre o passado e o presente. Essa abordagem é evidente na sua série de desenhos, onde cada detalhe, forma e aglomeração de significados se torna uma oportunidade para desenvolver uma multupklicidade de dispositivos formais privilegiando o efeito da composição. A série "By the Ocean" por exemplo refere-se às várias tempestades nomeadas pelas agências meteorológicas (Ana, Peter, Ida, Grace, …), criando um contraste com a dimensão do tema e o formato, resultando em um jogo de pressões e conflitos.
Paralelamente à reflexão sobre o ambiente e o ser humano, e à dimensão subjectiva do artista, Rui Algarvio desenvolve o modo como vê a prática artística, sendo esta um dispositivo de presença no mundo e um agente que faz a mediação da consciência de um destino final. A frase "O pintor andou uma vida inteira atrás desse céu,” e quando o encontrou morreu”, que vemos à entrada da exposição, é assim uma metáfora para a busca da perfeição, inspiração máxima ou realização artística. No auge de sua busca, o artista completa sua missão de vida, culminando em sua morte. O "céu" simboliza não apenas a busca por uma inspiração suprema, mas também o esforço de uma vida inteira dedicada a uma prática. É disso exemplo o tríptico "O paraíso tem um jardim" referindo-se uma obra medieval, intensificando a ideia de uma jornada através de traços curvos e soluções formais diferenciadas. A alusão ao jogo de xadrez faz-se nas obras da série “Paradise” que simultaneamente é uma referência ao filme "O Sétimo Selo" de Ingmar Bergman, onde a Morte joga xadrez com um cavaleiro, simbolizando a tentativa de ganhar tempo ou confrontar o destino inevitável. Essas referências ao jogo e à sorte são observáveis também nas obras da série “OPTUJ".
Ao abordar temas universais como a experiência humana, a paisagem natural, a morte e a história da arte, Algarvio cria uma síntese única de elementos internos e externos. É nesta "paisagem humana" do artista, composta por experiências, memórias, emoções e visões pessoais, que reside uma vivência ligada à compreensão e aceitação da mortalidade. A sua obra celebra a jornada artística como uma busca eterna e significativa, onde a criação artística pode constituir uma afirmação da vida contra a certeza do fim.
Rui Algarvio (Barreiro, 1973). Em 1998, licenciou-se na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Em 2000, iniciou estudos de Mestrado, com bolsa do Instituto Camões e da Secretaria de Negócios Exteriores do México, na Universidade Autónoma do México (UNAM), Cidade do México. Em 2003, concluiu o curso de mestrado e foi distinguido com a Medalha de Mérito Académico Alfonso Caso, pela UNAM.Desde 2000, expõe individual e colectivamente em Portugal, Espanha, França, Áustria, Costa Rica e México. Entre as exposições individuais, destacam-se: Soçobro, Museu Nogueira da Silva (Braga, 2022); Da minha janela só vejo cor, Colégio das Artes - Q22, com curadoria de António Olaio (Coimbra, 2022); A pedra dourada do jogo da macaca, ªSede (Porto, 2022); Assomada, Quartel da Arte Contemporânea - Coleção Figueiredo Ribeiro, com curadoria de Andreia César (Abrantes, 2019); Over the branches of the hedge, Quase Galeria - Espaço T e Museu Nacional Soares dos Reis, com curadoria de Maria de Fátima Lambert (Porto, 2019); Tão grande como uma paisagem ao longe, Museu Municipal de Ferreira do Alentejo e Espaço Adães Bermudes, com curadoria de Mariana Marin Gaspar (Alvito, 2016); Grass between your toes feels nice, Módulo - Centro Difusor de Arte (Lisboa, 2016); Rui Algarvio - Paisajes, MAG Mustang Art Gallery, curadoria de Julio César Abad Vidal (Elche, 2013); A auto-estrada para a ilha, Sala do Veado, MNHN (Lisboa, 2012); Encontro com Nuno Gonçalves, Sala do Conclave, Palais Rihour (Lille, 2007). Entre as exposições coletivas, destacam-se: MACE 15 ANOS, AQUI SOMOS REDE, Coleção MG, com curadoria de Mariana Marin Gaspar (Elvas, 2022); Entre as palavras e os silêncios, Obras da Coleção Norlinda e José Lima, Centro Cultural de Cascais, com curadoria de Luísa Soares de Oliveira (Cascais, 2021); A paisagem que me representa, Museu de Lanifícios, Real Fábrica Veiga, Galeria das Fornalhas, Montanha Mágica* Arte e Paisagem, UBI (Covilhã, 2021); Island in the sun, Centro Cultural de S. Lourenço - Galeria Mário Sequeira, com curadoria de André Butzer, Fabian Schubert, Marcel Huppauff e Duarte Sequeira (Almancil, 2018); PERIPLOS/ ARTE PORTUGUÉS DE HOY, Centro de Arte Contemporáneo de Málaga, com curadoria de Fernando Francés (Málaga, 2016); Everywhere is the same sky, Uma perspectiva de paisagem na colecção Norlinda e José Lima, Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco com curadoria de Raquel Guerra (Castelo Branco, 2015); IV Bienal de Arte Contemporáneo Fundación ONCE, Centro Cultural Conde Duque com curadoria de Julio César Abad Vidal (Madrid, 2012); HangART-7, Pavilhão de Portugal, Hangar-7, com curadoria de Lioba Reddeker (Salzburg, 2009); Prémio Celpa/Vieira da Silva Artes Plásticas, Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (Lisboa, 2003). Está representado em várias instituições e coleções privadas (seleção): Fundação Carmona e Costa, Centro de Arte Contemporânea de Málaga, Fundación Pascual Ros Aguilar, Fundación Centenera, Coleção Dietrich Mateschitz (Red Bull Collection), Luciano Benetton Collection, Coleção MG, Coleção Fernando Ribeiro, Coleção Norlinda e José Lima (Oliva Creative Factory).