Pires Vieira (Porto, 1950) estudou na Escola Nacional de Belas Artes de Paris e na Universidade de Paris VIII, no inÃcio dos anos 70 e vive e trabalha no Estoril.
Expôs individualmente em cerca de 45 ocasiões e participou em cerca de 75 exposições colectivas.
De entre as suas individuais destacam-se a Pires Vieira Antológica, 'da pintura à pintura, no MNAC/Chiado e na Fundação Carmona e Costa; 'Faites vos jeux, Rien va Plus' na Sala do Veado no MNHN; 'Like a Painting - Up Close... It is a Big Mess', na Appleton Square, em Lisboa; Pires Vieira, no Pavilhão Branco do Museo da Cidade; 'Talk to Me', no CAM-Fundação Calouste Gulbenkian, 'Geometrias' na Fundação(Museu das Comunicações.
Das colectivas em que participou, sobressaem: 'Histórias: Obras da Colecção de Serralves', Museu de Serralves; 'Exposição Permanente (1969/2010), Museu Berardo,CCB; 'Um Percurso, Dois Sentidos', no MNAC/CHiado; 'Linguagem e Experiência', no Centro Cultural Palácio do Egipto, no Museu Grão Vasco e no Museu de Aveiro; 'Alternativa Zero', na Galeria Nacional de Arte Modenar, organizada por Ernesto de Sousa.
Para além da sua actividade como artista plástico, colabora na produção editorial de várias obras ligadas ao coleccionismo de arte contemporânea e comissariou, em co-autoria com Lúcia Marques, a exposição 'Outras Zonas de Contacto' no Pavilhão Preto do Museu da Cidade e na Fundação Carmona e Costa. Está representado em inúmeras colecções como: CAM-Fundação Calouste Gulbenkian, MNAC/Chiado, Culturgest/CGD, Colecção/Museu Berardo, Fundação/Museu de Serralves.


Embora a pintura constitua o principal universo de referência de Pires Vieira, a sua arte integra o potencial colaborativo de outras disciplinas, inserindo-se numa área de exploração aberta à s premissas da materialidade e tridimensionalidade da escultura e à espacialização da instalação. Estas coordenadas são muito visÃveis no primeiro núcleo da exposição, composto por um conjunto de peças que reforçam a presença fÃsica e objectual da pintura e que, em vez de apresentarem um único objecto, constituem uma comunidade de elementos. Recorrendo a processos de acumulação e sobreposição de pinturas e objectos já existentes, as peças são intervenções combinatórias cujas partes estabelecem relações dialógicas. Séries de trabalhos como Sem tÃtulo (2018–19) demonstram exemplarmente o modo como a pintura é libertada do seu espaço natural de suspensão, colocada no chão ou encostada à parede e disposta em interacção com outras obras e vários objectos de natureza extra-artÃstica. Nelas, conciliam-se uma pintura a óleo espessa, texturada, de plasticidade expressionista, e materiais produzidos industrialmente, que remetem para o universo doméstico e a construção civil e para valores estéticos e de uso diferenciados: electrodomésticos, paletas industriais, escadotes, pás, sacos de carvão. São sinais concretos de um universo por definir, um complemento especulativo da obra, que lhe recusa a conclusão do processo e o encerramento do sentido. Pires Vieira colecciona, selecciona, acumula, dispõe e combina objectos no chão, formando um jogo composicional não hierárquico de elementos de natureza diversa, explorando possibilidades de articulação de significado com base nas caracterÃsticas fÃsicas dos materiais utilizados — os seus volumes e escalas — e no diálogo com o espaço circundante. Neste sentido, a sua obra envolve o conceito de display como forma de destacar os objectos, aumentando a consciência do gesto de apresentação. O resultado deste exercÃcio de montagem é a criação de composições orgânicas, informais, provisórias e precárias de elementos, as quais evocam processos de armazenagem; nelas, as pinturas expostas, destacadas da parede, não obedecem a uma apresentação convencional e solene. Assim, aquilo que se evidencia nestas peças não é o acto de pintar nem a presença objectual da pintura. O seu modo de actuação e funcionamento incorpora uma dimensão de performatividade na prática artÃstica do autor. Esta dimensão, inerente aos seus procedimentos de montagem e instalação no espaço, é também, a par da conceptualização e apropriação de referências, uma expansão do efeito da obra que prolonga a sua apreciação: revela-se nunca apenas visita e conferência mas também projecção e ressonância perdurantes, contribuindo para a sensação de uma experiência de longos encadeamentos, diversa de um percurso de sucessivas revelações estanques.
As inúmeras possibilidades da pintura, Sandra Vieira Jürgens














Óleo sobre papel, 70 x 100 cm

Óleo sobre papel, 70 x 84 cm

Óleo sobre papel, 70 x 84 cm







